**Brasil ainda enfrenta desafios em educação financeira, mesmo após 10 anos de estratégia nacional**
Após uma década desde a implementação da Estratégia Nacional de Educação Financeira em 2010, o Brasil continua a enfrentar sérias dificuldades em formar cidadãos com uma relação saudável com suas finanças. Um relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), referente a 2018 e divulgado recentemente, posiciona o país na 17ª posição em um ranking de competência financeira entre 20 nações avaliadas. A média brasileira de 420 está significativamente abaixo da média geral de 505. Apesar disso, houve uma melhora em relação à avaliação de 2015, quando o Brasil obteve 393 pontos e ficou em último lugar entre 15 países.
Ricardo Paes de Barros, economista e professor do Insper, aponta que a falta de habilidades financeiras agrava os efeitos da crise provocada pela pandemia de coronavírus. Um dado positivo é que, segundo a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), o número de iniciativas na área aumentou em 72% nos últimos cinco anos, com cerca de 1.300 projetos criados por escolas e outras entidades. Claudia Forte, superintendente da AEF, ressalta que a diversidade regional do Brasil dificulta uma abordagem uniforme no ensino.
“Precisamos considerar as particularidades de cada estado. O Tocantins, que tem a educação financeira universalizada, não pode usar os mesmos conteúdos do Rio Grande do Sul”, explica. O foco da AEF está na rede pública, que possui mais matrículas e resultados menos satisfatórios, trabalhando na criação de materiais e na implementação de parcerias com secretarias de educação. “Visitamos diversos secretários estaduais e municipais. Há uma falta de vontade política e também de estrutura, com escolas sem banheiros ou acesso à internet”, diz.
Desde 2017, a educação financeira faz parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e fundamental, devendo ser uma disciplina transversal. No entanto, a implementação desse modelo apresenta desafios, como a avaliação, já que não existem provas específicas para essa temática. Outro problema é a formação dos professores. “Os docentes, muitas vezes mal remunerados e pouco valorizados, demonstram interesse em aprender sobre o tema. É essencial que eles estejam no centro da discussão e que os cursos de pedagogia sejam revisados”, defende Claudia.
O Banco Central do Brasil criou, em 2019, o projeto piloto “Aprender Valor” para ajudar na introdução da educação financeira nas escolas públicas, abordando a matéria de forma integrada com outras disciplinas. “O programa prevê a capacitação online de professores e gestores, e a aplicação do conteúdo em sala de aula”, conta. Essa iniciativa busca impactar não só alunos, mas também suas famílias e comunidades.
### Educação Financeira nas Escolas Privadas
Escolas particulares, com mais recursos e menos alunos, têm conseguido implementar programas de educação financeira com maior facilidade. O Helyos, em Feira de Santana, é um exemplo. A instituição já oferecia uma disciplina de empreendedorismo e, recentemente, expandiu o ensino de educação financeira para alunos mais jovens. Cinira Soledade, coordenadora do programa, explica que os alunos do ensino fundamental têm aulas específicas, mas o aprendizado se estende a todas as disciplinas.
Na Luminova, parte do Grupo SEB, a educação financeira é incorporada ao cotidiano dos alunos. Luiz Magalhães, diretor acadêmico, enfatiza que os conteúdos abordam questões práticas, como o uso de cupons fiscais para ensinar sobre gastos familiares. A tecnologia também desempenha um papel importante nesse processo, com professores incentivando alunos a comparar preços online.
### Educação Financeira para Adultos
É fundamental também pensar em adultos que já estão no mercado de trabalho e não tiveram acesso à educação financeira na juventude. Em janeiro de 2020, o Brasil contava com mais de 60 milhões de inadimplentes, um número que pode ter aumentado com a crise. Entidades públicas e privadas, como a B3 e o Banco Central, estão colaborando na disseminação de conhecimento financeiro fora do ambiente escolar.
“O objetivo é ajudar as pessoas a se conhecerem melhor e a gerenciarem suas finanças”, afirma Luis Gustavo Mansur Siqueira, do BC. O banco planeja inaugurar um Museu de Economia em 2022. A B3, com experiência em ensino presencial, lançou uma plataforma digital com conteúdos variados, como tributação, planejamento financeiro e investimentos. “Estamos focados em oferecer conteúdos que respondam às dúvidas das pessoas, especialmente agora que muitas estão entrando na bolsa de valores”, diz Christianne Bariquelli, gerente de educação da B3.